Hoje escrevo sobre o filme que (a par com GRAVITY) arrecadou o maior número de nomeações (10) para os Oscars e que já tem vindo a ser galardoado em diversos prémios (que referirei mais tarde): AMERICAN HUSTLE de David O. Russell. Mais uma vez consegui ganhar convites para uma antestreia, e foi assim que ontem assisti a um dos filmes mais badalados do momento (quando na verdade só hoje chegou às salas de cinema nacionais).
AMERICAN HUSTLE conta-nos a história, passada na América entre as décadas de 70 e 80, de um 'casal' de amantes "vigaristas", Irving e Sydney (Christian Bale e Amy Adams) que após serem apanhados em flagrante por um agente do FBI, Richie DiMaso (Bradley Cooper), vêem-se forçados a cooperar com este nas suas ambições de ser protagonista na captura de congressistas e outros agentes políticos de relevo possivelmente corruptos, [como o Mayor de Camden, New Jersey, Carmen Polito (Jeremy Renner)] envolvendo-os assim no submundo da máfia.
Para além desta confusão em que se vê envolvido, Irving tem ainda de lidar com a sua esposa Rosalyn (Jennifer Lawrence), uma mulher instável, manipuladora e dificilmente controlável.
American Hustle é uma comédia que se caracteriza por não ser fácil e/ou brejeira, sendo por isso inteligente e bem conseguida (há momentos que são absolutamente hilariantes, e aqui há que reconhecer a inegável capacidade expressiva dos atores, sobretudo de Bale, Cooper e Lawrence que apenas com a sua expressão corporal e facial arrebatam o público, provocando uma sinfonia de gargalhadas).
A história é envolvente, divertida, e os personagens são muito completos mas igualmente complexos. E é aqui que mais uma vez fica comprovada a arte de David O. Russell em construir personagens e em dirigir os atores na incorporação das mesmas (e talvez por isso seja repetente em dois anos consecutivos nas nomeações para as categorias de Realização e de Melhor Filme).
Em jeito de brincadeira, costumo dizer que se os atores ambicionam fazerem um dia parte de um prestigiante leque de nomeados ao Oscar, então o primeiro passo talvez deva ser degladiarem-se por um papel num filme de O.Russell. Já no ano passado, o seu Silver Linings Playbook teve 4 atores (Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro e Jacki Weaver) nomeados nas quatro categorias de representação (Melhor Ator Principal, Melhor Atriz Principal - vencedora*, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Atriz Coadjuvante) e O.Russell consegue repetir a proeza com American Hustle.
Bale, Adams, Cooper e Lawrence viram, assim, a sua prestação neste filme reconhecida com uma nomeação, e até à madrugada de 2 de Março permanecerá a incógnita de quais deles (se é que algum) levarão efetivamente a estatueta para casa.
E aqui devo dizer que, curiosamente e mais uma vez como sucedeu com Silver Linings Playbook, creio que Jennifer Lawrence é, dos 4, aquela que reúne maiores possibilidades de isso acontecer. Poderíamos pensar que assim é apenas por se tratar da "menina querida" de Hollywood no momento (e sim, isso também poderá pesar), mas seria tremendamente injusto. Lawrence demonstra de novo que é uma atriz imensamente talentosa e faz de Rosalyn "a alma da festa" que é American Hustle, dando, de forma irrepreensível, vida à personagem que, para além de desequilibrada, é inegavelmente determinante para o desenrolar e para o desfecho desta história. Porém, tem em Lupita Nyong'o (12 Years A Slave) uma fortíssima adversária.
Quanto aos restantes atores, creio que todos eles já devem estar imensamente satisfeitos com a nomeação. Adoro Christian Bale e considero que está magnífico como Irving, mas a concorrência de Matthew McConaughey e Leonardo DiCaprio é, a meu ver, demasiado forte, deixando-o com escassas (senão mesmo inexistentes) hipóteses de vencer. O mesmo acontece com Bradley Cooper [que deve agradecer todos os dias por ter sido (re)descoberto por O. Russell, pois é a ele que deve todo o crédito que tem como ator a ter em conta para papéis mais preponderantes, deixando de ser apenas o 'tipo' da 'Ressaca' - e que já lhe valeu duas nomeações a diversos prémios], uma vez que certamente verá Jared Leto a vencer.
No que diz respeito à interpretação de Amy Adams, apesar de incorporar na perfeição a sensual e arrebatadora Sydney Prosser, acho que está um pouco sobrevalorizada com a nomeação (considerando outras interpretações que acabaram por ser esquecidas pela Academia). Contudo, acredito que é uma das atrizes mais versáteis da indústria (esta já é a sua 5ª nomeação) e é preciso ter também em conta que participa em outro filme nomeado ao Oscar deste ano (HER, de Spike Jonze).
Por fim, devo dizer que, já vistos 4 filmes, e não obstante da inegável qualidade deste (que creio ter deixado clara ao longo da descrição), não canalizo em AMERICAN HUSTLE as minhas preferências para ser o grande vencedor da Noite dos Oscars (como sucedeu nos Golden Globes e nos SAG Awards). Como a dada altura afirma Sydney " You're nothing to me until you're everything", e foi precisamente com essa sensação que saí da sala de cinema. Adorei o filme, mas não teve em mim o mesmo impacto de 12 Years A Slave ou Gravity. [Mas deixou salvaguardada a torcida por Jennifer Lawrence]
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