sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

LORE by Cate Shortland

Assisti há dias a LORE, um filme do ano de 2012 realizado pela australiana Cate Shortland, passado na Alemanha, no pós 2ª Guerra Mundial, mais precisamente após o suicídio do líder do III Reich, Adolf Hitler, e que retrata as dificuldades dos "herdeiros" do nazismo neste complexo período de transição. 

LORE (Saskia Rosendahl) é a filha mais velha de um capitão Nazi e que de súbito vê a sua vida virada do avesso logo após o curto regresso do Pai. Depois de apressada e violentamente se ver obrigada a mudar de casa, também a mãe, que já revelava um imenso distanciamento e uma "inexplicável" revolta, encarrega-a de tomar conta dos irmãos e de arranjar forma para ir com eles até Hamburg, onde fica a casa da sua avó, uma vez que se irá entregar à polícia. 


Rapidamente Lore começa a perceber as dificuldades de cuidar de uma família, quando são escassos os recursos que lhe restam. Vai tentando comprar comida aos vizinhos, que também acabam por os expulsar, dado não quererem estar associados com nazis, tendo de se fazer a um longo e árduo caminho para chegar a Hamburg, e, em simultâneo, obter forma de alimentar os 4 irmãos e lutar pela sua sobrevivência. 
Neste percurso, um rapaz, que se faz identificar com documentos de origem judaica e que se dá pelo nome de 'Thomas',  começa a (per)segui-los, primeiro porque nutre um evidente interesse pela jovem Lore, mas que acaba por também se afeiçoar a toda a família, adotando quase que inconscientemente o papel de "homem de família", figura em falta no seio destes 5 jovens irmãos. 





Ao longo deste seu périplo, Lore é confrontada com as, até então desconhecidas, atrocidades cometidas por aqueles que, como o seu pai, lutaram pela exterminação do povo judeu e, paralelamente, vai pondo em causa todas a bases de construção do seu 'eu': as suas crenças, valores e sentimentos. A (não)relação que protagoniza com Thomas é quase que como uma tela pintada com as cores da repulsa, da dúvida e do desejo, que quanto a mim configura a confrontação de Lore com uma realidade demasiado dura bem como com o seu crescimento impetuoso. Como indica o próprio slogan do filme "When your life is a lie, who can you trust?".


O filme é verdadeiramente extraordinário, sem reservas, puro, duro e despretensioso. É inacreditável não ter sido sequer considerado pela Academia como nomeado a Melhor Filme Estrangeiro (foi o candidato da Austrália este ano para esta categoria), mas, em boa verdade, será sempre complicado ver os que se auto-entitulam heróis da 2ªGuerra Mundial (E.U.A.) reconhecerem que para lá do seu incontestável feito há o reverso da medalha, e que também os que inocentemente estiveram ligados aos monstros do Holocausto, acabaram por ser vítimas finais do mesmo mas pelas próprias mãos desses heróis (eram perseguidos e não lhes era permitido circular livremente no seu próprio país).



Por último, há que deixar uma nota de registo para o esplêndido desempenho da jovem atriz alemã Saskia Rosendahl, que consegue de forma exemplar transparecer toda a complexidade dos estad(i)os emocionais por que vai passando a sua LORE.

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